quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Chuva.


Chuva que lava a alma, molha o ego, acalma o pensamento.
Chuva que torna lama, que prende na cama.
Chuva que inunda o sonho.
Chuva que desperta a fantasia. Mistura tudo-nada e poesia.
Chuva que põe para dentro, que lembra dormir.
Chuva que faz não ir.
Chuva que encharca as ruas de vazio, entoando um esquecido acorde frio.
Chuva quase sempre repentina, já criou essa rotina, não tem como mudar.
Chuva que cai lentamente, insistentemente, cansativamente, angustiantemente, desesperadamente...
Em ritmo de chuva.

sábado, 22 de agosto de 2009

Pichando muros.

Muros geralmente separam um espaço do outro. Muros são o nosso limite, até onde podemos ir. Ou os ignoramos - pulamos -, ou deixamo-nos restringir por eles.
Muros podem ser os nossos pontos de vista, o nosso lado alienado e submisso. Muros podem ser os nossos insistentes equívocos ou simplesmente coisas que inventamos para nos esconder da vida. Nossos preconceitos e pequenas hipocrisias.
Acredito que os muros mais intransponíveis estejam dentro de nós. São os mais difíceis de ser identificados, e pior ainda de serem quebrados - pois apenas nós podemos fazer isso.
Muros pichados revelam uma identidade. A de um cara reprimido e revoltado com o mundo que o cerca, a de uma criança que risca uma parede sem saber ao certo porque está fazendo aquilo, a de um grande artista que foi esquecido ou que sequer foi descoberto algum dia ou a de um simples vândalo que picha por pichar.
Pichar muros é um ato de extrema coragem. O risco de ser pego, a adrenalina, o medo. E ainda a criatividade. Pichar muros é definitivamente uma arte!
Confesso que estou praticando um pouco dessa arte. Não nos velhos e tristes muros da minha cidade, mas nos meus muros, nos muitos muros dentro de mim. Tento pôr mais cor, mais alegria.
De tudo um pouco, desenhos abstratos, frases criativas, alguns cálculos matemáticos, plantas de casas, trechos de livros, letras de músicas, histórias estranhas, poemas sem sentido, fotos de família, nomes de amigos, datas importantes, infinidade de sonhos, opiniões infundadas que um dia terei que apagar, notícias sobre política, melancolia, inseguranças e muita, muita bagunça.
O mais legal de tudo é a disponibilidade de opções. Tintas de mil e uma cores, texturas, efeitos...
Pincéis dos mais variados tipos e tamanhos. Precisão, imaginação e liberdade para criar. Acredito que a liberdade é de certa forma, consequência da imaginação. Ambas não exigem limites.
Se eu não gostar de alguma coisa nos meus muros, é só pintar por cima. Se eu quiser modificar outra, pego o pincel e completo. É que aprendi que nada nessa vida é constante. As pessoas e os acontecimentos não são tão previsíveis assim.
E assim vou levando os meus dias, pichando os meus muros, tornando-os mutáveis, maleáveis, suportáveis, até criar coragem para algum dia,quem sabe, derrubá-los definitivamente.